Geral – 03/09/2012 – 16:09
Policiais da Delegacia da Praça Mauá (1ª DP) investigam a ação de uma quadrilha suspeita de dar um golpe imobiliário que movimentaria milhões de reais em pelo menos quatro cidades das regiões dos Lagos, serrana e norte do Rio de Janeiro. Só em Arraial do Cabo, um dos balneários mais visitados do litoral fluminense, os golpistas pretendiam lucrar quase R$ 4 milhões com um apart hotel que nunca foi construído.
Na região dos Lagos, a construtora Mult Construções Ltda. chegou a angariar cerca de R$ 600 mil com compradores de apartamentos que só existiam em cartazes e panfletos. A propaganda dos empreendimentos fantasmas era feita até em um dos acessos à ponte Rio-Niterói.
O golpe só não foi adiante porque Francisco Lima Filho, de 50 anos, dono da empresa, foi preso no último dia 9 durante reunião com as vítimas no escritório da Mult Construções, no centro do Rio.
O delegado José Afonso Mota, titular da 1ª DP, diz que, além de a construtora ter registro na Jucerja (Junta Comercial do Estado do Rio de Janeiro), adotou procedimentos legais para dar uma aparência de credibilidade ao negócio. Segundo ele, como Lima usava documentos falsos em nome de outra pessoa ele também era considerado “limpo”.
- A construtora tinha contrato social. Eles contrataram uma empresa para fazer o projeto e outra, de Belo Horizonte, para fazer a sondagem do terreno e verificar as condições da construção.
A empresa também espalhava banners e panfletos para divulgar o empreendimento. Até autorização das prefeituras, por meio de alvarás, os golpistas conseguiam para construir.
De acordo com as investigações, Lima procurava terrenos à venda. Como não tinha dinheiro para comprar, ele fazia proposta aos proprietários. Lima prometia repassar imóveis que seriam construídos e as partes assinavam um contrato particular de compra e venda de imóveis com permuta.
Em seguida, começavam o anúncio e a venda dos imóveis que supostamente seriam construídos. O suspeito cobrava um sinal de cerca de 30% do valor do imóvel. Vítimas chegaram a pagar R$ 185 mil à vista por uma unidade em Arraial do Cabo.
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Depois de embolsar esse dinheiro, Lima transferia a empresa para o nome de um “laranja” e mudava o endereço do escritório da construtora, sacramentando o golpe.
Para as vítimas e para a empresa, o golpista usava o nome de Diguimar Francisco Gomes, um homem do campo, de baixo grau de instrução, que vive em Teresópolis, na região serrana. A vítima não sabia que seu nome vinha sendo usado no golpe. O verdadeiro Francisco chegou a ser candidato a vereador por Teresópolis, em 2008, como Chico Lima.
Identidade escondida na meia
- Nossos policiais foram à reunião entre Lima e as vítimas. Enquanto era levado para a delegacia, ele mexeu na meia. Os policiais pediram para ele tirar o sapato e descobriram a verdadeira identidade de Diguimar.
Lima foi autuado por uso de documento falso, mas segundo a polícia deve responder por outros crimes.
Ainda segundo as investigações, os criminosos, que atuavam há mais de um ano, já aplicaram o mesmo golpe em Macaé, Cabo Frio e Teresópolis. A quantidade de vítimas e o valor arrecadado estão em apuração.
De acordo com a polícia, o terreno que seria usado no golpe, no centro de Macaé, é avaliado em R$ 5,6 milhões. A quadrilha também lesou a empresa que fez o projeto para Arraial do Cabo, que havia cobrado R$ 45 mil, e a firma que fez a sondagem do terreno, que só recebeu R$ 5.000 do total de R$ 15 mil acertados.
E-mail suspeito
Lima enviou um e-mail para o advogado Luís Carlos Ramalho, de 63 anos, um dos herdeiros do terreno de 648 m² de Arraial do Cabo, contendo fotos da demolição de uma casa que havia no local para mostrar que a construção do apart hotel estava em andamento. A polícia também descobriu que ele pretendia tirar passaporte, possivelmente para fugir.
- A mensagem foi enviada para outras pessoas e eu percebi então que ele já estava vendendo imóveis sem poder. O terreno estava em processo de inventário. Mesmo com o contrato que fizemos, ele não tinha a posse. Passei a desconfiar. Consultei o nome dele no SPC (Serviço de Proteção ao Crédito) e vi que ele não tinha crédito para comprar um botão. Além disso, trocava de celular todo mês. Meu sobrinho vendeu um carro para comprar um imóvel. Ainda bem que agora está preso.
Uma das vítimas, que vai se casar no próximo mês, chegou a pagar R$ 5.000 e comprar um carro de R$ 69 mil para Lima, como adiantamento pelo imóvel. Uma idosa de 82 anos vendeu a própria casa, avaliada em R$ 100 mil, em Teresópolis, aos golpistas.
Fonte: R7.com