21/12/2014 – Atualizado em 21/12/2014
Por: Reuters/Marta Nogueira
Uma delegação da chinesa da Sinopec chegou ao Brasil na quinta-feira para tentar negociar com a Petrobras uma reversão da decisão da estatal de rescindir contrato de 3,1 bilhões de reais para a construção de unidade de fertilizantes nitrogenados, em Mato Grosso do Sul, em obra desenvolvida pelo consórcio formado pela companhia asiática e a brasileira Galvão Engenharia.
A informação é de uma fonte que acompanha de perto as negociações entre a Petrobras e o consórcio, que preferiu não ser identificada, já que não tem autorização para falar sobre o assunto com a imprensa.
Ao comunicar ao mercado nesta sexta-feira que o contrato foi rescindido, a Petrobras limitou-se a acusar o consórcio de descumprimento do acordado, mas não detalha os motivos.
A fonte próxima ao assunto declarou que a obra foi paralisada pelo consórcio há cerca de um mês, depois que esgotaram-se as tentativas de renegociar com a Petrobras aditivos para a obra.
A Galvão Engenharia é uma das empresas com funcionários e dirigentes que são réus no caso da Lava Jato, operação da Polícia Federal que apura um suposto esquema de cartel por companhias que firmavam contratos com a Petrobras.
Segundo denúncias, havia o pagamento de propinas a pessoas ligadas à petroleira, com repasse de percentuais para políticos.
A fonte afirmou que o contrato, assinado em 2011, passou por modificações solicitadas pela petroleira na linha de montagem industrial. Dessa forma, seria necessário o pagamento de aditivos por custos adicionais do consórcio.
Entretanto, segundo a fonte, após a deflagração da Operação Lava Jato, interlocutores da Petrobras responsáveis pela renegociação dos contratos desapareceram. Para a fonte, os funcionários têm medo de assinar qualquer papel e acabar envolvido nas denúncias de corrupção.
Com isso, o consórcio resolveu reduzir a velocidade das obras aos poucos, com a consequente demissão escalonada da força de trabalho, coordenada com o sindicato local, até que há cerca de um mês as obras foram interrompidas.
Em janeiro, quando a obra na cidade de Três Lagoas, divisa com São Paulo, estava a pleno vapor, reunia cerca de 6 mil funcionários. Atualmente, há apenas poucos responsáveis pela manutenção e preservação da planta, de acordo com a fonte.
Procurada, a Petrobras não comentou a questão dos aditivos imediatamente.
RENEGOCIAÇÃO INTERROMPIDA
Segundo a fonte, a Petrobras informou ao consórcio recentemente que o contrato seria rescindido unilateralmente, e que as empresas tinham até dez dias para apresentar suas justificativas para a interrupção das obras, o que aconteceu na quinta-feira.
O consórcio quer esgotar as negociações administrativas cabíveis antes de tomar uma decisão de entrar na Justiça, segundo a fonte.
Em nota ao mercado, a Petrobras disse que está em dia com todos os seus pagamentos e compromissos previstos no contrato.
“A companhia está atenta às consequências da inadimplência do Consórcio UFN3 com trabalhadores e fornecedores e está tomando todas as medidas ao seu alcance para que o Consórcio UFN3 cumpra com suas obrigações legais”, afirmou a petroleira.
Procurada, a Galvão Engenharia informou que não iria se pronunciar. Não foi possível contatar imediatamente algum representante da chinesa Sinopec.
As obras de construção da Unidade de Fertilizantes Nitrogenados III (UFN III) encontram-se 82 por cento concluídas, segundo a Petrobras, que disse que está refazendo o cronograma da obra, visando garantir a conclusão do empreendimento no menor prazo.
A UFN III produzirá anualmente 1,2 milhão de toneladas de ureia e 70 mil de toneladas de amônia.
A unidade de fertilizantes atenderá aos mercados dos Estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, São Paulo e Paraná, importantes produtores agrícolas do país