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Setembro Amarelo: para quem já pensou em encerrar a própria vida, cada dia é uma vitória

30/09/2016 – Atualizado em 30/09/2016

A vontade de viver é maior!

Por: Marcio Ribeiro com Midiamax

O Setembro Amarelo chega ao fim com vários acontecimentos dramáticos envolvendo suicídio em Mato Grosso do Sul. O mês da campanha de prevenção aos casos foi sacudido com boatos, rumores e mais notícias de mortes do que gostaríamos de publicar. Finalizando o mês, mas não as iniciativas de remover o tabu que cerca o assunto, trazemos a história de uma sobrevivente. Do sofrimento às tentativas, hoje ela luta constantemente com este fantasma, mas afirma que a vontade de viver é maior! Cada dia é para ser comemorado, como uma vitória.

Falando calma e pausadamente, nossa personagem contou sua história, de quem tentou não só uma, mas 3 ou 4 vezes, como ela própria diz. “Sempre fui uma pessoa triste. Depressão não começa de uma hora pra outra. Minha família tem essa característica depressiva. Hoje entendo que a tristeza que sentia desde a infância e a adolescência não era frescura e sim uma doença muito séria”, recorda ela. “Trabalhava e estudava e achava que ia passar. Mas não passa! O certo é pedir ajuda!”

Derrota para a dor

Foi quando teve câncer que ela sucumbiu ao sofrimento. Há 6 anos, quando tinha 36, foi diagnosticada com um tumor maligno na mama. Além do tratamento e seus efeitos, as pessoas não sabiam como lidar com o fato e ela passou a ficar mais depressiva.

“Achei que conseguiria lidar com a situação. A primeira quimioterapia foi tranquila, mas no segundo ciclo o cabelo começou a cair e passei muito mal. Eu achava que seria forte, dispensei peruca e lenço, mas depois eu vi que não estava dando conta. As pessoas me olhavam com dó e comiseração, achavam que eu ia morrer”.

Ingestão de remédios e pulsos cortados foram os métodos utilizados. Os familiares a encontravam e levavam ao hospital, onde ficava internada para desintoxicação. Porém a última tentativa foi mais grave, ficou em coma. “Quando saí do coma minha família quis me internar em uma clínica psiquiátrica e eu aceitei. Eu quis. Foram 40 dias muito difíceis, pois eu ficava junto com pacientes com outras patologias”.

“Não queria mais viver mesmo! Morrer pra mim era uma solução, hoje eu sei que não é, mas era a única saída que eu encontrava. A sociedade diz que quem tenta suicídio, o faz somente para chamar atenção, mas eles não sabem o quanto dói! As pessoas não compreendem, elas julgam, elas não sabem o que se passa.”

Minimizar o sofrimento do outro é um dos maiores erros que se comete com pessoas depressivas. O capelão Edilson dos Reis, coordenador do curso de prevenção ao suicídio do HU/UFMS diz que somente quem carrega a dor é que sabe o quanto ela pesa. “Tinha gente que me criticava ao extremo, outros ajudavam. Quem realmente é amigo e te ama te respeita. Muitos se aproximaram e muitos se afastaram. Mas eu compreendo as pessoas, é difícil entender”.

O gatilho que a levou tentar suicídio pela primeira vez foi quando ficou sabendo de comentários a seu respeito. “Eu trabalhava na área da saúde na época em que estava me tratando do câncer. Uma pessoa me contou que um médico havia dito que eu não teria 3 meses de vida. Então eu pensei ‘vou morrer mesmo, por que vou ficar sofrendo?’ Minhas unhas caíram, meus cabelos caíram, eram vários os efeitos colaterais”.

Ela abandonou o tratamento do câncer por pelo menos três vezes. Talvez nas mesmas ocasiões em que tentou se matar. Passaram-se os três meses da previsão dada pelo médico. Passaram-se as tentativas. E ela sobreviveu. “Família e amigos me motivaram a continuar a viver. Vi que minha mãe estava sofrendo com essa situação”.

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Luta constante
“Hoje ainda tenho meus momentos de altos e baixos, mas a vontade de viver é maior. Os pensamentos ainda passam pela minha cabeça. Quem tenta se matar e sobrevive não está imune a isso. Mas eu pretendo não fazer mais. Mas é como aquele diabinho que fica te cutucando e luto contra isso todos os dias!”

Nossa personagem passou por um momento que a abalou muito. O irmão gêmeo foi assassinado em um assalto, há três meses. “Sofri muito, mas tenho minha mãe e não posso deixar a peteca cair”, conta ela.

“Quando penso em morrer, me deito, peço pra Deus acalmar coração, leio a Bíblia e penso na minha mãe. Ela não suportaria mais esta tragédia. Tenho algumas amigas com quem converso também. Elas são amigas mesmo. E quando estou triste, procuro compartilhar, elas conseguem entender. Quem sofre quer um ombro amigo. Eu sou importante e, apesar de tudo, vale a pena viver. Ninguém está aqui por acaso, por isso tento viver a vida da melhor forma possível”.

Uma das receitas desta sobrevivente é se permitir sofrer, não esconder o sentimento. “Quando estou com vontade de chorar, eu choro. Há alguns dias chorei bastante, conversei comigo e no dia seguinte me senti melhor e procuro me ocupar o máximo possível. Tenho meu companheiro e meus animais de estimação que me cercam”.

Apesar de não desejar se identificar para esta reportagem, ela diz que conta sua história e conversa sobre suicídio. “Quando vejo alguém reclamando da vida eu conto minha experiência. Morrer não resolve”, ensina ela.

O conselho é que “as pessoas fiquem atentas. O quadro de depressão é nítido, você vê nos olhos, a pessoa depressiva não quer participar de nada. E muita coisa, muito sofrimento e, às vezes, a gente não dá conta”. Por anos, ela fez tratamento e tomava vários remédios e hoje não passa mais por terapia e não faz uso de medicamentos.

Ela recomenda que aqueles que sofrem devem procurar ajuda. “Psiquiatria é uma profissão fantástica. Eu digo que psiquiatra coloca sal em cima da ferida, mas só assim pra curar. Tem que ficar falando. As pessoas precisam entender que não é médico de louco, psiquiatra é essencial, mas as pessoas tem vergonha. Não pode ser assim”.

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